terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

SERÁ QUE OS ATEUS SÃO MESMO MINORIA?


SERÁ QUE OS ATEUS SÃO MESMO MINORIA?

Eu, Edson Amaro, fui um dos palestrantes do Congresso de Ateus ontem, 8/2/2015, na Universidade Rural de Seropédica. Ao final, Welbert Cabral, a quem dedico este texto, me entregou um questionário com questões sobre como me tornei ateu, se isso afeta a minha vida social e o que eu considero ser ateu.
Neste texto responderei à primeira, melhor do que fiz no questionário, caro Welbert, pois tinha que prestar atenção à palestra do Pirulla.
Meus pais não me impuseram religião alguma e a gente não ia à igreja, mas todo mundo se dizia católico porque tinha sido batizado quando bebê. Estudei num colégio evangélico em que nos diziam que a resposta para tudo estava na Bíblia e eu me decepcionei quando me dispus a ler a Bíblia de cabo a rabo. Sentia-me oprimido naquele colégio porque havia temas tabus. Exemplo: todos nós tínhamos que assistir a um culto toda quarta-feira, onde o diretor do colégio, pastor, dizia que a seca no Nordeste existia porque os nordestinos eram idólatras que adoravam o padre Cícero e por isso Deus os castigava. Por isso a seca do Nordeste não era estudada nas aulas de Geografia. Eu me ressentia disso como nordestino que sou: minha gente estava sofrendo e sendo culpada por esse sofrimento. Tinha que haver uma explicação científica para isso. Por isso, eu chorei quando li "Os Sertões", de Euclides da Cunha. Ali estava o que os professores não me tinham dito, as informações que me tinham sido negadas. Eu contei isso à bisneta de Euclides quando a conheci. E, surpresa! Ela tinha ouvido os mesmos absurdos porque tinha estudado no mesmo colégio.
Fui espírita por um tempo, mas me afastei porque aquele pessoal tem um pensamento muito conservador politicamente. Não vou falar aqui de minhas posições políticas.
Um dia, na casa do meu primo em Cabo Frio, que casou-se com uma moça da igreja batista, daquelas muito ativas na igreja, li um livrinho batista muito bem escrito, e havia uma página que falava contra o ateísmo prático. O autor se queixava que a maioria das pessoas diz crer em Deus, mas não ora, não vai á igreja, não faz nada que um cristão deveria fazer. Eu, que estava há um tempão sem participar do movimento espírita, sem fazer orações, sem me envolver com religião, e até questionando a maneira de agir dos representantes de Deus (por exemplo, o caso do bispo do Recife, que excomungou uma menina estuprada pelo padrasto, porque era necessário que ela abortasse, pois seu corpo pequenino não suportaria uma gravidez de gêmeos; esse caso me feriu fundo) reconheci que aquele era o meu caso: eu estava praticando o ateísmo, totalmente afastado da religião, apenas não usava a palavra ateu, porque essa palavra estava carregada de preconceito.
Bem, tendo sido xingado de viado tantas vezes, tendo sido acusado de me apropriar do dinheiro do sindicato quando eu era dirigente (quem me acusava tinha todos os meios de investigar e provar as acusações; cheguei mesmo a pedir uma investigação contra mim mesmo para que se apurasse se eu estava mesmo me beneficiando indevidamente do dinheir do sindicato), o que me custava carregar um preconceito a mais sobre os ombros?
Quando se fala em ateísmo, lembro sempre da canção da Rita Lee, "Ovelha Negra": "Foi quando meu pai me disse: 'Filha, / Você é ovelha negra da família'. / Meu Deus, quanto tempo eu passei sem saber?"
Tem muita gente que é ateu e não sabe. Não é nem que esteja no armário, sem se assumir. É que não sabe mesmo que é ateu. Não entende que essa palavra tão temida o veste como uma luva. Mas a sua prática é ateia. Ele vive como um ateu. No dia que essas pessoas perceberem isso, deixarão de ver essa palavra como uma coisa ruim e vestirão essa palavra, ao menos em sua consciência. Poderão ser ateus e ateias no armário. No dia que encontrarem outros ateus que não estejam no armário, talvez saiam do próprio armário.
Caro Welbert, espero que esse texto ajude em sua pesquisa.

Atenciosamente,

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