domingo, 16 de novembro de 2014

Depoimento de um ateu - O novo deus - por Silvia Reis


O Novo Deus

É interessante constatar a quantidade de "Deus" de que se ouve falar! Não se trata aqui dos nomes que lhe são atribuídos, tampouco existe uma referência aos deuses pagãos das mitologias ou a qualquer outro deus, mas sim dos diversos aspectos, objetivos e comportamento da divindade "Deus".

O deus que permeia sobretudo as crenças judaico-cristãs é o "Deus" de Abraão, de Isaque e de Jacó e também de Moisés que, entre todos os escolhidos desse deus, foi aquele que mais intimamente o conheceu, chegando a tornar-se mesmo o porta-voz dele. 

Deus é o criador, o legislador e o juiz da humanidade: o Todo-Poderoso. Não é um deus qualquer. É o único a quem chamamos "Deus". E tem-se apenas esse "Deus". Não existe outro. Nenhuma outra divindade é tida como sendo superior a ele dentro da história que dele conhecemos. Nem mesmo o cristianismo coloca seu filho único acima dele, pelo contrário, submete-o à vontade do seu pai que é Deus, segundo às próprias doutrinas cristãs. 

A história de vários povos também nos conta que inúmeras religiões e cultos espalhados pelo mundo tiveram suas doutrinas adaptadas a fim de reverenciarem esse único "Deus". 

Aceitar o "Deus" único implica aceitar que sua palavra é eterna e imutável e nada pode ser acrescentado ou subtraído dos textos que relatam sua história. 

Desse modo, não pode existir um "Deus" diferente daquele que nos é apresentado nos textos sagrados. Não existe um "Deus" que não tenha expulsado Adão e Eva do paraíso. Simplesmente não existe.

Como não se pode identificar Deus de outra maneira, só conhecemos Deus através de suas ações descritas nos livros sagrados, cujas fontes fidedignas são conhecidas. Por isso, não se pode dizer que Adão e Eva são personagens lendários sem incluir nessa ideia o seu criador.

E se se puder observar atentamente com que agilidade Deus é substituído por Jesus em algumas religiões, mais depressa podemos notar que ele está sendo esquecido junto com sua história. A interpretação da palavra de Deus então dá lugar à interpretação do Evangelho, a fim de ocultar o paradoxo existente entre um deus que foi incapaz de perdoar o pecado original e uma divindade misericordiosa e isenta de atributos indesejáveis. Pelo menos, miticamente. 

Assim, Deus tem sua palavra e suas ações cada vez mais ignoradas, principalmente entre os próprios religiosos quando não querem exaltar as particularidades de uma divindade que protege um povo em detrimento de outros, age com crueldade e não incentiva a paz entre os homens. 

Contudo, nada disso parece ser levado em consideração quando se trata de descrever "Deus".
Não se pode precisar se pela necessidade de acreditar num gestor invisível que norteie suas vidas ou simplesmente para ser aceito numa sociedade onde os rótulos falam pelos valores, mas pela simples observação podemos constatar pessoas tentando compor sua própria imagem do Criador quando se ouve "Deus pra mim é isso e Deus pra mim é aquilo" ignorando parcial, ou mesmo completamente, a única identidade de Deus da qual se tem conhecimento.

Assim, presenciamos a gênese de um novo "Deus". Um "Deus" nascido da imaginação; facilmente adaptável aos valores de cada um: em alguns casos, justo, especialmente quando o resultado de uma disputa é em favor do imaginador, noutros, bom, quando salva uma vida entre tantas outras que se perdem na ocasião de um evento desastroso; em outros ainda, fiel, quando seu imaginador convicto de que ele está ao seu lado, difunde a maravilha de ter o apoio Deus para comprar o pão de cada dia. Enfim, cada qual cria seu próprio "Deus" com as características que melhor lhe convém. Então, nesse momento, Deus se multiplica, transveste-se e se reforma tornando-se assim um "Deus" que se rende aos profundos anseios do seu imaginador que fica tão apaixonado por suas idéais do Criador, que passa a lutar por elas com unhas e dentes para provar que o seu "Deus" é melhor que o dos outros, mostrando claramente sua insatisfação com o "Deus" que aparece nos livros sagrados cujas características não podem ser modificadas.

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