terça-feira, 5 de agosto de 2014

ARIANO SUASSUNA, ANA BOLENA E O "APOCALIPSE"


Uma vez, Ariano Suassuna foi entrevistado no programa Conexão Roberto d'Ávila. O jornalista começou fazendo perguntas sobre a sua primeira peça, "Uma Mulher Vestida de Sol". A frase foi extraída do livro do "Apocalipse" (Cap. 12, 1). Suassuna começou por dizer que considerava o "Apocalipse" um livro belo, "até plasticamente". As imagens descritas pelo livro são, de fato, belas. Se não houvesse o "Apocalipse", eu digo, talvez não houvesse o Surrealismo, não houvesse Salvador Dalí e outros. Drummond disse uma vez que "São João Evangelista foi o maior dos surrealistas". Mas basta que você se declare ateu para que um cristão fundamentalista queira usar o "Apocalipse" para te causar medo. Carl Sagan se queixava do analfabetismo científico do público americano. Eu me queixo do analfabetismo poético e artístico do povo brasileiro, incapaz de ver a beleza das Escrituras; só veem nela uma fonte de medo e uma justificativa da opressão que sofrem.
Fosse eu historiador, estudaria as diferentes interpretações do "Apocalipse" através do tempo.
No capítulo 17, por exemplo, São João afirma ter visto uma prostituta montada numa fera de sete cabeças. Essa prostituta teria se embriagado com o sangue dos santos e cometido fornicação com os reis da terra. No fim do capítulo, ela termina morta pela besta na qual montava.
Ora, é lógico que, se eu pesquisar textos do século XVI, encontrarei interpretações nas quais padres católicos acusarão Ana Bolena de ser essa prostituta, pois Henrique VIII divorciou-se da primeira esposa e, para casar com ela, fundou uma nova igreja e matou quantos continuaram fiéis ao papa na Inglaterra.
E mesmo assim o mundo não acabou.
A cada século, a cada década, em cada igreja, uma nova interpretação do "Apocalipse" surge, acusando quem lhes interessar como sendo a grande prostituta, Babilônia, a Grande.

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